“O isolamento social se tornou para mim também uma oportunidade, sem espaço para justificativas e procrastinação, de fazer um belo detox”, escreve nossa colunista Rosa Moraes; confira dicas e o passo a passo para começar
Nem toda coluna em tempos de quarentena precisa tratar de comilança, por mais que eu ame essa parte. Fato é que o alimento, em toda sua complexidade disfarçada de coisa simples, é muito mais do que fonte de prazer ou porta de entrada para diferentes culturas. Quando a gente se dispõe a estudar a fundo, entende que comer pode ser também uma das formas mais eficazes de manter um corpo saudável – e não estou aqui falando de estética, mas de equilíbrio. Enfim, por que decidi filosofar a respeito no nosso papo de hoje? Acontece que o isolamento social se tornou para mim também uma oportunidade, sem espaço para justificativas e procrastinação, de fazer um belo detox. E quem me guia nessa empreitada é a maior especialista no assunto que conheço – e que está aqui em casa comigo: minha filha Luisa.
A gente morou na Califórnia e em Connecticut por muito tempo e lá a onda dos alimentos orgânicos e naturais começou há mais de duas décadas, quando ela era ainda pequena. Por isso adquirimos o hábito de consumir ingredientes de qualidade e boa procedência desde sempre. Aí, aos 20 anos, quando se mudou para Los Angeles, Luisa leu Clean, um best-seller do cardiologista Alejandro Junger que despertou nela o interesse por medicina funcional e integrativa. Mergulhou de vez nesse universo, agendando sua primeira consulta com o Doutor Edison de Mello, médico brasileiro que trata celebridades como Julia Roberts, no Akasha Center for Integrative Medicine, em Santa Monica. Ela passou por uma avaliação completa e seguiu um programa personalizado de detox por um mês, que acabou esticando para dois porque simplesmente amou. Amou tanto que, desde então, fez diferentes tipos de detox, que procura tabelar ao menos duas vezes por ano. E, 11 anos e 30 livros depois, decidiu se profissionalizar, tornando-se health coach certificada pelo Institute for Integrative Nutrition (quem quiser conhecer mais sobre o tema, aliás, pode segui-la pelo Instagram no @luisa__moraes).
Do meu lado, volta e meia eu procurava aplicar as orientações dela, mas é claro que sempre foi meio difícil seguir o esquema à risca – ao menos em meio à minha rotina profissional normal, que envolve constantes visitas a restaurantes e viagens gastronômicas, com controle zero sobre o que vou provar. Por isso a pandemia que nos força agora a ficar em casa acabou por jogar a favor da disciplina. Juntos, a Luisa, eu e Thomas, meu filho caçula que também está em home office, nos lançamos de cabeça em um programa de 21 dias, cabo a rabo, sem abrir exceções. A ideia é fazer uma limpeza do organismo cortando glúten, leite e derivados, cafeína, ovo, soja, carnes vermelhas, açúcar e todos os processados. Alimentos que causam inflamação, como milho, amendoim, tomate, batata, pimentão e berinjela, também pulam fora do cardápio, assim como frutas com muito açúcar. É hora de priorizar as que têm baixo índice glicêmico, como abacate, limão e frutas vermelhas, e apostar nas verduras, que alcalinizam o organismo. Na prática, 80% do que você coloca no prato devem ser verduras.
Também é importante fazer algumas refeições líquidas, que ajudam na desintoxicação do corpo por serem mais fáceis de digerir. Sopas, smoothies e sucos verdes entram em campo, então se prepare para lavar muitas folhas. Ah, importante lembrar: tudo orgânico, ok? E como a Luisa leva a questão a fundo, a gente também cortou peixes que têm mercúrio, como o atum, e passou a consumir só peixes selvagens, de pesca sustentável. Para fazer um detox de verdade é fundamental ficar de olho na procedência daquilo que você come. Tem ainda os jejuns intermitentes, em que a gente fica pelo menos 12 horas sem comer nada. Antes que alguém se assuste, basta que estas horas separem a última refeição da noite da primeira do dia seguinte. Com um filminho antes de ir para a cama, oito horas bem dormidas e uma meditação logo ao acordar, por exemplo, a gente já mata a charada. Last but not least, bebe-se muita água e corta-se o álcool. Mas nem aquela tacinha de vinho tinto na hora do jantar? É, nem aquela. São só 21 dias, vai. Prometo que vale a pena. E, se quiser dar um boost a mais no detox, pode até instalar um filtro de água no chuveiro para eliminar substâncias químicas e resíduos (a Luisa me fez colocar no meu 10 anos atrás!), fazer sauna, esfoliar a pele com o método dry skin brushing, consumir algas (spirulina e chlorella são duas boas opções), além de plantas e raízes que ajudam a detoxificar, como cúrcuma, erva-cidreira, gengibre e ashwagandha. Outra dica é tomar shot de gérmen de trigo e alguns suplementos como probióticos, enzimas digestivas e vitamina D. Ufa. Agora pausa para respirar. 🙂
Pode parecer sacrificado, mas a verdade é que esse lance de clean eating faz tudo no organismo voltar a seu devido lugar. Os hormônios se regulam e a imunidade melhora porque, ao tirar as toxinas que estressam o corpo, ele acaba restaurando suas habilidades de autocura. A pele rejuvenesce, você ganha um sono de qualidade e passa o dia com a energia super equilibrada. Diz a Luisa que a gente começa a se conhecer melhor e a aproveitar mais a vida quando está nesse processo. E é mesmo. Tudo isso sem ditadura da magreza ou essas bobagens que assolam nossa sociedade hoje em dia. A palavra de ordem aqui é wellness – ao pé da letra, bem-estar, mas de forma mais verticalizada. É ter prazer de se alimentar bem e sem neuras (compartilho no fim do texto, aliás, uma das nossas receitas detox para quem quiser dar uma chance à ideia). Ao final dos 21 dias, quando a gente volta a abrir o leque para experimentar todas as delícias do mundo, o valor que cada garfada tem é completamente diferente. Ao mesmo tempo em que o corpo passa a exigir nada menos do que uma alimentação de qualidade, a mesa – e a vida – adquirem uma escala de texturas e sabores bem mais ampla. Simplesmente mágico.
GREEN SMOOTHIE (super fácil, é só bater no liquidificador)
1 xícara de leite de amêndoas
2 folhas de couve
1/2 pepino sem casca
1/4 de abacate
1 colher de chá de gengibre ralado
1 colher de sopa de óleo de coco ou MCT oil
1/2 colher de chá de spirulina
1/2 colher de chá de ashwagandha